sábado, 20 de março de 2010

A rua

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Pedras da rua

São minhas e tuas e de quem passa por ti.
As pedras das ruas, os beijos do imigrante,
As esculturas dos distantes.
O jardim e as flores os muros do teu jardim
São as lindas casas de pedras.
Os telhados musgados, os pardais a cantar
as vidraças molhadas
as portas abertas e outras fechadas,
um cortinado diferente tudo no lugar, nada mudou
E eu carregando as lembranças,
lindos versos que me ensinou.
A era dos malhes a eira de cabecinha
Os normais do centeio os Medeiros de pelha
as trameiros das ruas.
Os carros de bois por ela a passar.
O celeiro do centeio nas telhas da casa.
A noite dos lampeões e as estrelas,
eram as luzes da aldeia...

Umbelina do Nascimento Nunes Reis

O romance

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Nós dois

Queria tanto saber de ti,
de todos dois, se é verdade.
E ainda há quem diga
que o amor é pecado.
Vejamos nós dois,
deixamos o amor para depois
O nosso amor profundo
bandido e secreto
O nosso coração e a nossa alma,
que se acalma finjimos que estamos longe,
estamos dentro um do outro
Abraçados na cruz.
O amor e a saudade são as flores
que me enfeitam.
Um manto me cobre com elas
vivo a cantar.
Procura-me pela rua
ou na praça da vitória
Escrever para o mundo a razão,
da nossa história
o tempo passa eu te espero
te abraçar na grça.
Se um dia perderes de mim,
quero que leias a nossa história,
Quero que leia até o fim
Volta amor não deixes para depois,
Venha ler a paixão que escrevi para nós dois.

Umbelina do Nascimento Nunes Reis

segunda-feira, 15 de março de 2010

Os Rouxinóis

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Os pardais e os rouxinóis

O rouxinol cantava, cantava.
Os pardais se desesperavam.
Falavam lindas canções de amor,
Não paravam de cantar.
Falava que os rouxinóis,
a noite é feita para descansar,
e o dia para trabalhar.
Canta rouxinol,
deixa a madrugada chegar.
E as andorinhas,
que acabaram de imigrar,
veio fazer os ninhos.
Bordavam os telhados
com muito carinho,
Rouxinóis, não cantem a noite inteira!
Por que a lua e as estrelas,
Também querem brilhar...

Umbelina Nascimento Nunes Reis

domingo, 14 de março de 2010

Detalhes

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Juntei detalhes

Envelhecemos!
Mais a voz da musica,
É sempre igual.
Eu me encontrei.
Ainda sou tua.
Mas tu,
Estavas tão longe!
Juntei detalhes da rua
Como eram muitos
E pesados,
Como papeis dobrei-os.
Emendei-os com as sombras da rua
E da lua.
Espelhando
Em todas as escunas
Deixei pra ti uma carta escrita
Com os detalhes de um fado.

Umbelina Nascimento Nunes Reis

A Volta


Voltei

Voltei me vejo como guerra.
Nas pedras da minha terra.
Com as paredes revoltadas
As casas caídas,
Almas feridas.
Quem foi que me abandonou?
E tudo de mim tirou!
Não sei de mais nada,
Sou alegre revoltada.
Um beijo a minha aldeia amada
Eu me vejo ajoelhada.
Um casarão,
E eu jogada a seu pé.
E morrendo por ti.
Nos caminhos dos copos de vinho
Uma loucura armada.
E os inocentes pagando por tudo.
Que todos os queridos guerreiros,
Que descubram tantas emboscadas.
Que grite aos mortos
Que fujam de espanto
Que acorde o imigrante.
Todos perdem ficam sem nada
E voz do imigrante sempre calada.

A Louca

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Analfabeta, Umbelina desenvolveu um dom único, de transformar em poesia, coisas inperceptiveis aos olhos da rotina. Mostrando a beleza, a alegria, e os desgostos escondidos nas insignificancias do dia-a-dia.

Uma loucura analfabeta

Uma grande caravela,
Ao longe no mar perdida.
E a analfabeta louca
Só penso em escrever
Passava pelas areias descalça,
E olhava o que o pé escrevia.
O pé cinco dedos
Cada um tinha um tamanho,
E um formato diferente.
Nenhum era igual.
Eu cada vez mais apaixonada.
E não me conhecia.
Olhava para o espelho de vidro ofuscado
Achava-me a rainha do pecado.
O vidro se quebrou!
O coração do imigrante,
Uma estrela que brilhou.
Somos,
Nos mesmos.
E assim a loucura vai passando por mim.
E eu procurando a civilização.
E tudo se afastou.

Umbelina Nascimento Nunes Reis.

Menina

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Dona Umbelina nasceu dia 25 de Dezembro de 1922, na aldeia de Pombares, Trasosmontes, em Portugal. Quando ainda era menina sua mãe vira a falecer deixando esta responsabilidade para ela a filha mais velha que havia de cuidar de todos os irmãos para o pai poder trabalhar na lavoura. Sob estas condições não pode estudar...


Menina

Lembro-me daquela menina,
Dos cabelos ondulados,
caídos sobre os ombros.
Um olhar de criança,
por baixo do olhar.
Guardavas, tantas responsabilidades,
difícil de acreditar.
Cansada e preocupada,
Sorria para todos
Com divino olhar.
Quem diria!
Tanta tristeza,
Sem força para trabalhar
olhava para os cantos,
com um olhar manso,
chorava, chorava e chorava:
Oh! Deus dai-me força
Dá vida ao meu coração,
E não me deixe cair em depressão...


Umbelina do Nascimento Nunes